A Trajetória de uma Obra

Fundação Artística e Cultural

SOBRE A OBRA NA ARTE DO ARTISTA

“A eternidade do que é transitório, estará registrado na coerência da trajetória que busca e na qualidade dos frutos vindouros das sementes que foram plantadas e cultivadas neste plano de vida”.

Em suave melodia lírica e lúdica, personagens movem-se livres da corrupção dos nossos tempos, ativando o imaginário numa visão tão particular quanto universal para a interpretação do mundo, por meio de uma obra artística elaborada através de um desenho de caráter estilizado e primoroso, amplamente marcado por simbologias bem como de uma atmosfera densa, marcadamente fascinada pelo lado oculto da vida e da representação do fantástico muitas vezes com doses aprimoradas de um surrealismo moderno e contemporâneo.

Interessando sempre a presença sólida da figura humana de um modo todo especial, em uma síntese gráfica próxima às vezes de uma mistura inimaginável de grafite com vitral, em uma profusão de cores e uma composição que combina cenas da vida contemporânea e visões de um universo próprio com personagens transitando por meio de cenários estranhos, intrigantes e poéticos, produzindo assim uma realidade onírica bastante perturbadora; Seja bem vinda, seja bem vindo à metafísica.

Mantendo-se em uma busca incansável pela magia do fantástico, espera-se elevação acima dos simples fatos observados, transmitindo a vivência mágica que se encontra além da realidade, de maneira que esta visão seja mostrada por meio da realidade, mas de modo algum limitada por ela... Um impulso criativo que desafia as formas de arte convencional mediante conceitos pessoais imaginativos sem estar totalmente livre de convenções coletivas e das regras estéticas tradicionais... Acima de tudo nunca esquecendo de que, as teorias não devem querer explicar a força de uma obra.

Camila Bevilacqua

TRAJETÓRIA

É visível que como pintor, já desde cedo e por escolha, o artista não queria reproduzir simplesmente aquilo que os seus olhos viam e seguramente manteve como um dos seus objetivos, encontrar na pintura uma forma de expressar sentimentos, opiniões e experiências vividas e vistas de uma maneira pessoal, que se por um lado deixava claro suas influências que nunca foram nem serão negadas, por outro, pudesse ter uma força singular na forma de se comunicar visualmente com o observador, assim como a voz para o cantor e a expressividade da interpretação para o ator.

As buscas internas de cada ser humano sempre farão parte dos dias e especialmente no que diz respeito a quem faz ou trabalha com arte, que talvez seja uma busca bem mais agressiva justamente por não haver fórmulas pré-estabelecidas nem guias plenamente confiáveis de orientações práticas.

A técnica da pintura é como aprender a ler e escrever, fato fundamental e de extrema importância para a evolução própria do indivíduo em meio ao coletivo, mas as essências da arte, o artista acredita que sejam o pensamento e a personalidade do indivíduo e, segundo suas palavras; “Podemos ter os melhores exemplos, orientações e inspirações, mas no final das contas a personalidade será única e será através dela que os pensamentos serão materializados através das infinitas técnicas de expressão”.

Na busca e procura que o artista realizou para encontrar sua personalidade na pintura, há muitos quadros bons, alguns muito bons e também alguns ruins, por que segundo o próprio artista diz; “aprendi a não ter medo nem vergonha dos meus erros, assim como acredito que seja principalmente a partir deles que irei conseguir lapidar e melhorar o que sou como artista e pessoa, até mesmo porque creio que tanto para um como para o outro, os erros são muito mais valiosos do que os acertos, dentro desse processo de aprendizagem e busca que enfrento diariamente”.

OBRA AUTORAL

Talvez, a maior felicidade para alguém que decide trilhar uma estrada na vida artística, seja o dia que de fato consiga realizar um “primeiro” trabalho “autoral” na prática, da mesma maneira que sempre esteve dentro de sua mente. Trabalho este que para o artista, com absoluta certeza representará eternamente, um marco, sendo um divisor de águas no meio da estrada.

Muito provavelmente, não seja nem de perto, um excelente trabalho, menos ainda uma “obra prima”, tão pouco venha a fazer parte dos quadros que ele mais gosta, entretanto, pode acreditar que será eterno em sua memória e certamente no seu relacionamento íntimo e individual com a pintura.

Neste ponto específico, o artista jamais será capaz de esquecer cada uma das centenas de sensações que sentiu ao finalizá-lo, não somente por que seja provável ele ter plena consciência de que aquele será o princípio da finalização de uma busca que perdurou até aquele momento e tantos anos que o antecederam, mas também por estar observando a materialização física do seu próprio pensamento expresso por intermédio de técnica e estilo.

E dessa maneira, será de fato, cada quadro nascido após este primeiro e artisticamente falando, o artista, que aqui é um humilde intérprete da vida, terá acabado de dar a luz e agora será necessário por meio da paciência, ensinar sua cria a ficar de pé; ler, escrever e se relacionar com o mundo em seu entorno, até que um dia finalmente, sua obra possa estar pronta para ganhar o mundo e se manter nele por conta própria.

A partir de uma observação cronológica um pouco mais atenta, será possível encontrar e observar exatamente com clareza todo o processo de aprendizagem e evolução pelo qual o artista transitou até chegar a sua fase que carinhosamente ele nomeia como “obra autoral”, e que de certa forma, talvez o assente no universo da pintura a partir desta sua pequena, mas significativa contribuição.

Certamente, a lapidação da pedra bruta talvez nunca chegue ao final, mas esta é uma trajetória artística, que aponta para a certeza de já haver encontrado um caminho em seu tempo do trajeto que agora aponta para provável maturidade.

“Que cada um dos quadros seja para seus olhos, tão gratificante como foram para eu realiza-los e que assim seja até meus últimos dias”.